Completo enfim
agora é hora de voltar
caminhaste em um pesadelo
é hora de acordar.
Leva contigo um sonho
o cante aonde for
ao cruzar com o desespero
o encante com um tom menor.
Com um gosto amargo na boca
e um quase nada de foco nos olhos
viro pro lado sereno
contemplo a parede branca
pedindo um afago sincero
sincero como eu nunca serei.
escorro recinto adentro
alcanço a tomada da sala
foi-se embora a luz.
que um dia já enfrentei
os metros quadrados
se fazem vales imensos
eternos
e a tristeza se vale do tempo
que por tempos não passa
pra aumentar o tamanho das coisas.
Fabricam de forma barata
chinelos, sandálias e afins
num pólo industrial fumacento
distante exatas cem milhas daqui.
Se afoga no ar
pra não ter mais certeza de nada
o vento que sopra aqui
trás um dia molhado de sol...
o sol vai brilhar
por entre as nuvens de gente e rostos perdidos
e o tempo...
Acendi a luz da sala
que é pra enxergar melhor
o hálito que me aquece
no fundo da sua boca.
Certo dia, discutindo bobagens com Deus
na sacada do meu apartamento alugado
me apareceu um moleque alado
com asas escuras e um bico mudo
ouvindo a conversa
fazendo pose pra sair na foto.
desceu correndo a escada finita
coberta por degraus tortos
chegando ao térreo de concreto frio
levou lambida de policial
por levar fumo de bobo no bolso.
Acorda sempre tristonho
sob o olhar tênue das borboletas
pausadas no arbusto de seu jardim
cientes de ter um único dia para voar.
caminha por entre edifícios cinzas
duros como o mal amar
procurando fendas no asfalto
um lugar seguro para depositar
moedas, sentimentos e quetais.
Foram tantas as folhas caídas que ele havia contado
até aquele exato momento
em que a música parava
que chegou realmente a pensar:
poderia caber o universo inteiro
ao longo dos galhos dessa antiga árvore.
Depois de correr apressada
desesperada
cortando o tapete da sala, pisando pesado no piso
limpo na manhã passada
largou no fogo o ensopado coalhado
feito pro jantar passado
atendeu o telefone
com uma voz cansada
afinal, pelos tempos de vida
já estava avançada.
Mas ninguém respondeu.
Eu tenho as sombras pra esquecer das cores
eu uso as notas pra calar a voz de Deus
eu não me expresso bem
não tenho tempo de correr atrás do tempo perdido
Disfarço e piso numa flor
confesso, eu sou um grande ator
só atuo por aplauso, eu sou um falso, eu sei mentir bem
por um tempo eu me arrependo
passa logo, eu sei.
não levo nenhuma mensagem de paz
não há nada que eu pense, que me faça sentir culpa.