quinta-feira, janeiro 25, 2007

Enxerga o céu despencar
com os olhos semi cerrados
devido a exaustão.

Faz uso da dor latente
em seus seios flácidos
para estuprar o tempo
com um pedaço de lápis
um toco gasto.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Os anjos - por uma criança

Os anjos nunca dizem nada
até porque já são a mais pura verdade
que se possa imaginar
eles vão além dos pensamentos
estão sempre olhando pra gente
mas não julgam
é lógico
isso é trabalho de Deus
que está ocupado agora
na construção de um monte de mundos
que provavelmente terão problemas também.

Pra isso servem os anjos:
ficar olhando as burradas
que Deus faz por aí.

Anjos não tem asas
isso é coisa de passarinho.
Fui tirar um bicho morto de casa
pus num saco plástico
pois fedia muito.

Borrifei perfume nos cantos
pra ver se resolvia...
melhorou um pouco.

Me lembrei do pessoal da escola
eles cheiravam bem
mas não passavam de ratazanas mortas.
Estou nadando em sangue quente
ainda vivo e viscoso, quente
o sol me faz borbulhar
e eu me torno sangue também.

Não é só meu olho vermelho
que possui essa cor agora
mas meu espírito que anseia
por ir embora.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Minha vida cabe dentro
de uma embalagem
de sabão em pó.
Incabível era a palavra esbelta
pra desmontar encostos:
"o que sobrara de rusgas todas"- diziam.

Bem sangriam eles
que pra mandar curtir centenas
era preciso apenas sexo
do mais sujo invisível
que se podia dar contas
e mais contas.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Enquanto escrevia linhas de letras
alguém morria atropelado na avenida
embaixo da minha janela .


Parei um instante os devaneios
pra assistir a cena
ver a multidão se aglomerar
e supor bobagens.

Levaram o corpo tempos depois

num carro com luzes em cima
que gritavam horrores
pra todo mundo ouvir
e o mundo ouvia.

As pessoas se dissiparam
voltei pra mesa
pra terminar de escrever
algumas letras nas linhas.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Esse rancor que guardas
alojado fundo n'alma
te causou um câncer.

E tem cura doutor?

O câncer?

Não, o rancor...
Excelentes de contato
corrigem a visão turva
se colírio do campo
não surtir defeito.

Último

Corria pelos pés das montanhas
com um chumaço de porco
enfiado na boca.

Era maneira correta
conforme diziam as revistas
(médicas e também as de costumes)
de se evitar a infecção.

Quando via gente morta
jogada nas matas
tirava o chumaço da boca
e gritava:
"SATISFAÇÃO EM REVÊ-LOS".


... e voltava a correr.
Vejo o futuro
pelo branco do meu dente ciso
arrancado
há três dias atrás.