sexta-feira, abril 28, 2006

Ventos

A ilha abriu a temporada
pros ventos gelados que sompram do sul.

Se tormentam na ponte aos milhares
cada qual esperando a vez de soprar.

Hoje andando ao teu lado
vi um vento frio passando por ti.

Sobre aqui

Tanto já foi dito
sobre essas ruas tortas
seus assoalhos de pedra, lambidos por solas
distantes umas das outras
as pessoas coladas em muros
estiradas ao sol
distantes umas das outras
esperando a cadência de um troco atirado
por mãos passageiras e velozes
distantes umas das outras
com seus móveis autos cuspindo remorsos ao ar
tão próximos uns dos outros
e as moradas seguras subindo aos céus
uma em cima das outras,
que nem vou dizer nada.

O amargo

Mergulho numa xícara de café preto
que sem o enfeite do açúcar
fica forte e amargo.

Faz-me lembrar de pessoas amargas
porém fracas...
todas cheias de açúcar.

Água demais

O que a pequena florzinha obteve
com tanta atenção, em demasia até
foi que numa poça de
lama
acabou se afogando.

quarta-feira, abril 26, 2006

O encontro

Eu que te perdi há vidas
rodei as sortes para te encontrar
me faço um cisco do seu vasto ego
o brilho fosco cego em seu olhar.

Uma ponta da ilha

Me embaraça a alma com esse vento frio
me leva os olhos prôutro lado do mar
pois lá se anda em pequenas luzes
e é lá que eu quero estar.

Me leva embora.

terça-feira, abril 25, 2006

Dúvida lactante

Indagado por si se era tinto
pergunta intrigante como ela sol
respondera sem medo que cinza...

Mas também
numa horta daquelas
tudo valia apenas.

Janela

O ponto de ônibus que és triste
em frente almirante da minha casa
recebe as poeiras da gente
que desce para a calçada.

Gaveta

Um tipinho enrugado
já beirando a esterco
fazia amor com as lembranças

da sua gaveta de trecos.

terça-feira, abril 04, 2006

O intruso

No findar de outro dia
echarcado da chuva insistente em molhar
um arco-íris de abril, colorido de pingos
se expurgou sala adentro
pela fenda estreita
da janela cerrada

por onde o ar menos tenso se fazia entrar.

Encucado com a astúcia
daquela audaz entidade
que sem pedir licença
invadira o meu cinza
causando em mim mal-estar

me pus de pé afobado
e num piscar de um dos olhos
dei-lhe um chute certeiro
fazendo o azul desbotar.

Com a ajuda de um rodo e o suporte da pá
recolhi os frangalhos do que antes brilhava
despejei o entulho num cinzeiro de hotel
me joguei na almofada, estiquei bem as pernas
bebi dois goles d'agua e voltei a sonhar.

A sabedoria da minha tia acrílica

Conversa vai e conversa vem
disse pra mim, minha tia acrílica
que por ela tudo bem
se eu fizer apenas o que bem quiser
disse com todas as letras
enxarcadas de tinta
que me dá licença pra que eu vá e volte
de lugares bizarros onde eu bem sonhar.

Eu disse que sim, tudo bem
e que a partir de agora
vou gastar minhas solas
e andar a procura

de uma garota chamada ostra.