Pro centro inteiro ouvir
berra com pulmões
cheios de ar
impuro, sujo
- escura atmosfera
fode o ato
respiratório
agora asmático
chiando a cada
inspiração doente
ruidosa
encatarrada, porca
suja - grita
a plenos pulmões:
PEGA LADRÃO!
Lá vem Deus
de novo
cobrar deveres
não sou bom
já havia dito
antes de nascer.
Não louco assim
a ponto de tarjas pretas
ansiolíticos, anti-psicóticos...
mas não normal também
a ponto de andar sorrindo
dando bons dias
por aí.
Alguém cai
na rua
devido a tontura
da fome.
Passo reto.
Vou.
Diante de tua onipresença
me desfaço em assombro
existe um lugar
onde olho
em que não estás?
Pelos bosques e campinas
ruas comerciais
casas, templos
esquinas e varandas
sei que estás.
A certeza de que
aqui me fitas
também, é que
por onde ando
leio teu sinal:
contém glúten.
Te encontrei uma vez no limbo, pedindo
restos de histórias pra espantar o frio.
Neguei qualquer conto que fosse, por birra
pra não te aquecer.
Agora escrevo
enquanto a tinta
seca.
É o processo
não cabe a mim apressar
por isso espero
sinto o gosto
de veludo
um cabernet sauvignon
atrasar o tempo
me dando tempo
de pensar em palavras
enquanto as figuras
[sim, eu pinto figuras]
se enxugam
pro próximo toque.
Respondo à fome
com a gororoba
aquela que sobrou
do almoço.
Misturados numa panela só
legumes, tomate, arroz e feijão
todos mesclados
num só caldeirão.
São mais de oito horas
....................da noite.
Pra amanhã
deixo a louça
suja em cima
da pia.
Dedos médios em riste
celebram o ostracismo
das coisas
pequenas e grandes.
Não importando o tamanho
da bosta ou glória
vírgula
o foda-se é mais relevante
ponto.
E seguimos em frente
adoçante.
Estica os olhos pra ver
aquilo que mais ninguém nota
avista um monstrengo sem cor
atrás dos mourões do cercado.
Vê o pobre diabo
albino largado
se pondo de lado?
Só outro Satã deflorado
projeto mau mal acabado
demônios hoje se fazem aos bocados.
Escuto uma canção triste
presentear versos em breu
escuros de se ouvir
mas claros pra mim
como a luz no início do túnel
no qual adentro
cada dia mais
passo a passo
pra não deixar escapar
nenhum tombo.
Exalo vapor
dos poros
o ar
em sua sutileza
de ar
agradece.