terça-feira, junho 20, 2006

Importante é ter um compadre
ou comadre
pra quando estourar um desastre
ter com quem conversar.

segunda-feira, junho 19, 2006

Manhã di terça

Voltan' da feira cedím
subind'a escada devagarím
sacolas de compra firme nas mão
tumate, cenora, quiabo e melão.

Sobe, sobe, viúva dona Elisângela
fazer prus netím
suquím de larângela.

domingo, junho 18, 2006

Tampa

Achou seu nome dentro
do pote de mayonese
já vencida dentro
da máquina de fazer frio
ao lado da garrafa aberta
sem tampa.

O cheiro do tempero pronto
pro almoço do outro dia
grudava na água.

Sentia um gosto
quando se bebia.

sábado, junho 17, 2006

Resumo do dia

Tomado de súbito por uma fúria avassaladora
correra pro shopping com uma metralhadora
e matou mais de dez.

quarta-feira, junho 07, 2006

Chuveiro elétrico

Água quente de chuveiro à noite
deixa sã a alma fatigada
lava a nhaca que grudara ao dia
atiça o sono para a madrugada.

Se demora o banho esfumaçado
mais se esquece do que foi dilema
se estiveres bem acompanhado
quão longínquo ficam os problemas.

Durante o banho a vida é bela
que o mundo acabe em cacos
ou exploda uma nova guerra.

Esse sonetinho que então compus
displicentemente desce pelo ralo
quando chega enfim a conta de luz.

terça-feira, junho 06, 2006

Primeira onda

Muito tempo encrustrado
tenho agora enfim
dois pinos nos pés
a missão agora é
deixar a barba crescer
até o dia
em que pegar a primeira onda
numa manhã de primavera
ainda fria.

segunda-feira, junho 05, 2006

O lugar

Colhendo letras no pomar dos traumas
morde pedrinhas com sabor amaro
ensopa a barba numa poça d'alma
cospe versinhos de motivos parvos.

Esse lugar há tanto esquecido
aonde brinca de pescar firulas
tornou-se em tempo o seu preferido
fez dele um campo pleno de fortunas.

Aqui se ilude como bem puder
faz pouco caso do que importe tanto
distorce os fatos quando assim quiser.

Dê cambalhotas seu demente, insano
arrote frases como que por encanto
exale glórias pro que é profano.

Céu cinza

Céu cinza é feito pra coisas
as que passaram por exemplo
céu cinza serve pra suspiros
em forma de "ais"

por algo, quase sempre alguém
céu cinza é pra chover
obstante nem sempre o faça
a gente espera
uma gota d'água
que não desaba.

domingo, junho 04, 2006

Inspecionar profundezas
contradizer as belezas
encarar quem se é
um doidinho de marré marré.

Medos de domingo
arreganham o vácuo
que me tem
o peito.
O ônibus demora
à espera de ansiedade
nesse ponto morto
da minha sala.

sábado, junho 03, 2006

Algo falta, embora
jamais tivera.

Inquietante a saudade
de alguém, um lapso
em distância intercontinental.

De mim me fui
pois me és
e foste.

Sabes.

Au revoir.

Big Onion

Quando existe aquecimento
comprometendo o rendimento
do veículo automotivo
preste muita atenção:
não precisa de destreza
todos têm quase certeza
que o culpado é o cebolão.
Quão mais duro é o laboro
mais remoto torna o sonho
de extrair o pé do lodo.

sexta-feira, junho 02, 2006

Soneto à rã



Apaixonado pelos animais
bichos pequenos, grandes e quetais

ele é Francisco dono da farmácia

sempre antedendo o povo com eficácia.

Num dia frio algo aconteceu

foi que Adamastor, o biólogo adoeceu

deixou sozinha uma rã do mato

que abrigava dentro de um sapato.


Francisco, em visita, quase teve um infarto

encarando o anfíbio com tamanha afeição

sentiu no peito uma palpitação.


Em troca de remédios e penicilina

o cientista enfermo deu a verde menina
a Francisco... que a amou por anos.
Tentei em vão
escrever um conto

eu travo
não prossigo
foda demais
fiquei dias
e dias
não passei de um ponto.
Palavras doem
causam dor
repetia isso
enquanto se picava
com a letra i
se masturbava
com a letra j
delirou letrinhas
pra montar palavra
escreveu igreja
pra enfeitar a jaula.

quinta-feira, junho 01, 2006

PUF!

Destroços de paisagen imunda
põe-se em lastro
rumo ao chão delgado
desse plano distorto
em que ruminas asneiras.

Pisas fiel e segura
num palmo de areia rala
julgando certo afirmar que existes.

Sopra um vento e PUF!
já não podes mais se manter em pé.

PUF! aliás,
é a melhor onomatopéia
para findar de uma vez
com esse poema inútil
pois tudo acaba assim:
PUF!

O primo bobo

Cuidado!
já diria Euclides
o primo mais velho e bobo
se referindo a Antunes
o paquiderme parvo
a quem deras ouvidos
e amores salivados, fermentados
pra que crescessem mais que deviam
a bancos e credores atrozes.

Fora Antunes aliás,
que munido de instrumento cortante
trinchara o véu de quimera que usavas
acreditando em amores

que se faziam eternos
encenando peças biltres de prazeres mil.

Falso, sórdido!

Quem dera conferisses ouvidos
ao primo bobo Euclides
nunca afetos ao funesto Antunes.

Legado único

Discutam as leis, os termos, os meios
as cláusulas e não se esqueçam dos fins
enquanto vocês porcos matracam
pela parca valia de nada

o que posso deixar de legado
pra quem vier depois do meu caso
com essa arrastada existência orate
é que:
existe uma arte secreta

no ato de se mijar pra fora
do vaso.

Pobre diabo

Diagnosticaram naquele demente
um avançado distúrbio extra EXTRA! sensorial
instalado na base naval
de sua torta de pêras coluna cervical

possível estrago por trás, na frente e ao lado
de seus desvios, retornos e curvas fechadas da mente.

Caretas, piruetas, punhetas
elocuções libertinas sem sentido nenhum
gargalhadas histéricas saudadas por puns
tudo isso resultado direto
de uma má formação congênita
no amargo do âmago.


"Má formação acadêmica!"
diriam alguns.